O
número de pessoas que desejam adotar uma criança no Brasil é quase cinco
vezes maior que o de crianças e adolescentes disponíveis – são 27.298
interessados para 4.985 jovens à espera de uma nova família. A
discrepância, segundo dados apurados em 10 de janeiro com base no
Cadastro Nacional de Adoção (CNA), se justifica por causa da exigência
que os interessados fazem com relação ao perfil da criança. Segundo o
coordenador CNA e também juiz auxiliar da Corregedoria Nacional de
Justiça Nicolau Lupianhes, esse é o principal entrave ao processo de
adoção.
“Na maioria dos casos, os pretendentes tem um perfil de criança
desejado. Geralmente é branca, menina, com até quatro anos, que não seja
portadora de nenhuma moléstia nem pertença a grupos de irmãos. Por
isso, o número de pretendentes é bem maior”, destacou Lupianhes.
De acordo com o levantamento, dentre os inscritos no cadastro, apenas
34,53% são indiferentes à raça do filho (a) pretendido. Dos
interessados, 91,03% manifestaram o desejo por adotar brancos. Aceitam
pardos 61,12% e negros 34,28% dos pretendentes.
A maior parte dos inscritos (82,76%) tem interesse em adotar apenas
uma criança. Segundo o CNA, 82,14% manifestaram o desinteresse por
adotar irmãos. Outros 80,28% negam-se a adotar até mesmo gêmeos.
No que diz respeito ao gênero, 33,23% dos pretendentes manifestaram
interesse por adotar meninas e apenas 9,60% desejam meninos. Aqueles
indiferentes ao sexo da criança/adolescente somam 58,89% dos inscritos
no Cadastro Nacional de Adoção.
Com relação à idade, a preferência é praticamente por bebês – 17,97%
desejam crianças até um ano de idade; 19,90% de um aos dois anos; 20,50%
de dois aos três anos; 18,32% de três aos quatro anos. Pessoas
interessadas em adotar crianças com mais de oito anos somam menos de 1%.
Crianças cadastradas
Os dados do Cadastro Nacional de Adoção indicam que o perfil de
muitas das crianças e adolescentes disponíveis foge ao exigido pelos
pretendentes. No que se refere à etnia, por exemplo, a maior parte das
crianças (45,40%) é parda. Negras somam 18,88% e brancas 34,56%.
De acordo com o levantamento, 76,85% daqueles que estão à espera de
uma nova família possuem irmãos, sendo 34,44% deles com o familiar
também inscrito no CNA. Ainda segundo o cadastro, 22,21% das crianças e
adolescentes disponíveis registram algum tipo de problema de saúde.
Curso de preparação
De acordo com o coordenador do CNA, a edição da Nova Lei da
Adoção (12.010/2009) tem contribuído para mudar o pensamento dos muitos
pretendentes de que o filho adotado tem que ter traços semelhantes aos
dos pais adotivos. Nicolau Lupianhes ressaltou que a construção de uma
família independe de cor ou idade.
“A norma exige que o pretendente faça um curso de preparação. Isso
tem sido muito bom, pois tem ajudado os interessados a mudarem as
exigências do perfil, o que é salutar”, afirmou.
“Se alguém comparecer à Vara da infancia-e-juventude e não relatar
exigência com relação à idade, sexo ou gênero, essa pessoa terá um filho
em pouquíssimo tempo”, acrescentou Lupianhes.
O Cadastro Nacional de Adoção foi criado pelo Conselho Nacional de
Justiça, em abril de 2008, para reunir informações a respeito de
pretendentes e crianças e adolescentes disponíveis em todo o Brasil. O
objetivo do mecanismo é tornar mais ágil o processo de adoção e
possibilitar a realização de políticas públicas na área.
Fonte: Agência CNJ de Notícias